Análises, Surtos e Etc

Vitrine do meu trabalho.

Friday, March 02, 2007

Hoje

Que o dia que começa triste por uma bobagem qualquer, torne-se ao longo de sua existência mais uma oportunidade de aprender, agradecer e louvar a vida por todas as bênçãos e oportunidades.
Que meu coração inquieto encontre alguma paz entre a correria dos fatos e dos pensamentos, para perceber e observar o quão mágico é o cintilar do sol, do céu azul.
Que essa inquietude que ás vezes me faz sentir oca, só, frágil e tediosa, escorra pela calha do passar das horas e que eu possa sentir o quão maravilhosa sou e quanto me é oferecido como obstáculos e desafios afim de me superar.
Que toda a negatividade que tentar se aproximar seja expulsa pelo sorriso escancarado que meu rosto de menina-mulher adora oferecer.
Que eu faça de cada segundo o melhor momento para mudar o mundo.
Que meu anjo da guarda possa acalmar minha alma e que eu confie em sua força, seu poder e seu amor.
Que isso que agora me parece pouco, tolo, vazio e opaco, transforme-se numa colheita brilhante, resultado de paciência, dedicação e disciplina, pra que eu possa a cada segundo de minha jornada ser um canal por onde a vida flui.
Curar a mim mesma, elevar aos demais e contribuir para evolução positiva da humanidade. É este o lema de quem, neste instante, deseja arduamente encontrar o sentido e apoiar-se na certeza absoluta da fé!

SAT NAM ;)

Monday, June 26, 2006

Potes de solução
Garrafas de dia inteiro
pacotes de cheiro de mato
glóbulos de amor eterno.

Pega com a pinça o frio na barriga
adoça com açucar mascavo
mistura ao som da força
coloca fermento e deixa.

No bolso da atitude
busca um crachá com a sua foto
Aproveita e me manda um beijo
Diz pro mundo que eu sou feliz!

O calor que está la fora?
vê se fui eu mesma quem quis?
enche de gelo meu castelo,
bebe mil goles do meu pranto.

E quando quiser saber quem é
grita bem alto num lugar cheio
Finge liberdade
Dança loucura

mas, jamais, se olhe no espelho.

Me sinto deixada de lado,
Jogada pra escanteio

Me sinto num fogo cruzado
entre eu mesma e a vida

Seres me vêem criatura
Criaturas me enchergam seres

Sigo, assim, nesta faixa de gaza constante:
as contradições dos meus caminhos.

Nem sempre onde há canção, há lógica
Quase nunca a vida faz sentido
O que digo, ás vezes, não é o que penso
Calo meu olhar no teu ouvido

Algo que sai de alguém
perde-se sem testemunha
Sem ser visto, não é
perde-se em alguma dimensão taciturna

Da cartola de cartolina
Sai o coelho do mágico
nos olhos da menina
nada além de luz e desepero

metáforas de flores eufóricas
saltam do meu imaginar
transborda minha voz escrita
e sigo incompreendida.

Eu, hein?

Eu grito
um grito ôco
Eu choro
lágrimas secas
Eu rio
um riso raso
Eu vaso
litros de desejo

Eu temo
não ter coragem
Eu sumo
só de passagem
Eu vejo
meu reflexo todo

Eu sinto
espinhos de chocolate
Eu luto
contra mim mesma
Eu quero
a noite inteira...

Eu bebo
olhares tépidos
Eu ouço
o vento leve
Eu canto
gritos noturnos
Eu gozo
tesão e culpa

Eu calo
minhas vergonhas
Eu falo
flores e beijos
Eu danço
tambor e flauta

Eu amo
Eu sou
Eu vivo.

(...)

Estou lotada de mim...

Como derramar tanta inspiração?
Como transformar tanta piração?

Estou sufocada em mim...

Dúvidas que pairam em meu ar
e este medo o tempo todo a me lembrar

...

Wednesday, May 03, 2006

Um pouquinho bipolar!

Depois de toda felicidade exorbitante sempre vem um sentimento hesitante. Tentar ser tão feliz como ontem e não cair na tristeza de hoje.
E vai vivendo um conflito estressante que consome cada segundo do seu tempo desviando cada um de seus pensamentos na direção daquilo que mais o atormenta.
Dá medo de fracassar, dá raiva de estar assim e da vontade de hibernar até essa sensação ter chegado ao fim.
É que quando se fica muito feliz, o sentimento rotineiro parece pouco. Tão frenética é a empolgação.
Calma tudo passa e isso também. Assim como passou a felicidade extrema e um dia ela irá voltar. Que de idas e vindas vai a vida. Logo essa ansiedade sumirá. E reaparece a alegria e depois volta essa angustiante nostalgia... nunca se acostumará.
Mas de uma coisa certa estou: vale a pena! Se sorri é porque chorei, ou então não há sentido. Se não houvesse o “day after” não saberíamos dar valor.
Por isso viver é dia por dia e não ontem ou amanhã. Não se reprima e sinta tudo. Que quanto mais sente, mais ainda sente e mais ainda sente e... quem saberá? Só posso dizer que valerá.
“Quanto mais profunda é tua tristeza, tanto mais profunda é tua alegria” (O Profeta)

Monday, April 10, 2006

Posso ser feliz/

Posso ser feliz: (no dmt - dicionário da minha turma) quando acaba de comer você sorri para a pessoa mais próxima mostrando bem os dentes e pergunta “posso ser feliz?”. Se a resposta for sim seu dente está limpo. Se não, não.

Coisa louca mesmo é essa história de não ter emprego. Eu quero, eu posso, eu sei que sou capaz, mas não tenho emprego.
Espera aí, vou me retificar: até que tem, vira e mexe aparece um ou outro, mas nada na minha área e, afinal de contas, eu me formei e quero muito poder atuar.
Vou seguindo entre uma decepção e outra sempre com aquela esperança forte e real, abatida algumas vezes, mas jamais fora de campo.
Por que a verdade mesmo é que tem hora que dá aquela vontade de jogar tudo - família, amigos, auto- estima e namorado - pro alto e fugir, desligar o celular só pra ver se alguém me acha, já que eu mesma não estou conseguindo me encontrar.
E a tal da sensação de estar perdida é algo um tanto quanto desconfortável é aquela calça que te deixa com o cofrinho de fora, é a boca suja de maionese que ninguém te avisa, é aquele furo que te deixa com a cara no chão.
E é muito mais que tudo isso, porque quanto mais você procura mais você acha e mais você se confunde e esquece o que estava procurando no começo.
“É só focar”, eu ouço por aí e tenho vontade de responder “ah é só socar? ” - a sua cara deve ser”!!

Wednesday, April 05, 2006

Sorry

Quem disse que perdoar não dói? Mentira. Dói sim. Mas a dor é a libertação. Essa dor que se sente perdoando mistura uma sensação de alívio, com um certo desconforto pelo que passou e o medo de do que virá. (EGO) . Mas quando finalmente perdoamos conseguimos vislumbrar por um milésimo de segundo o quanto podemos dar. Que benção é doar. Como é bom não se economizar!
O perdão ao outro é mais próprio do que ao próximo. É um despir-se de orgulho e crenças limitadoras. É um ato de compaixão, de empatia. Conseguir perdoar é aparentemente óbvio, mas é, de fato, uma alta na bolsa dos valores.
Perdão é algo dolorido. Pedi-lo é mais fácil do que concedê-lo. Quem pede, sinceramente, pede por algo que já aconteceu, um erro, um deslize. Desculpar-se é sua ultima, talvez única, alternativa. A quem pede perdão, já não sobra muito. Tomou sua decisão equivocada, está vivendo as conseqüências disso. Mas apesar de sua dor e de seu sofrimento, sente-se um pouco mais leve por admitir seu feito e até um tanto forte por ter coragem de encarar essa situação.
Ao que pede perdão não há mais nada a fazer além de esperar por sua sentença. Para ele o pior é esperado. Mas ainda há esperança. E ele espera.
Aquele que deve perdoar está magoado, ferido, decepcionado. Sente-se dividido. Sua confiança foi abalada, será que é merecida uma nova chance? E se voltar a acontecer? Estou sendo muito duro? Estou sendo tolo?
Ele que era a vítima é agora também juiz de um ato que não cometeu. Mas qual será sua responsabilidade nisso tudo? O que fazer? Virar as costas é dolorido, mas pode ser a melhor solução. A quem é solicitado perdão resta a intuição, o bom senso e a oração.
Ambos têm em comum o medo e a esperança. Muitas vezes um e outro são a mesma pessoa. O ser que não se aceita e vive a cobrar-se e punir-se, como júri e réu de um crime constante.
O perdão lida com todos os tempos: um passado mal escrito, um presente ainda mudo e um futuro pálido de expectativas.
Perdoar dói porque bate de frente com a necessidade de se proteger e faz cair máscaras. Dói porque desnuda. Dói por ser entranho e magnífico. Dói por ser contraditório. Dói por ser complicado até que se torne simples.
Perdoar é amar. É seguir em frente, aceitar, ouvir com o coração, sentir medo e enfrentar. Perdoar é chorar, é não ter certeza e ainda arriscar. Perdoar não é ganhar o céu, é perder o chão, perder o juízo, perder a razão. E ganhar o recomeço, a continuação.
Afinal, o que é o perdão? É entender racionalmente o que se passou, aprender a não julgar, admitir que nada sabe e perceber que superou. Ter coragem de buscar lá no fundo a verdade do AMOR.
Perdoar é expressar uma imensa fragilidade e mais do que nunca sentir-se forte. Perdoar é um ato de realizar a Energia Divina internamente. Perdoar é evoluir. Perdoar é viver.
O perdão é o mais forte de todos os abraços, pois une almas cristalinas na humildade e na fé. Perdoar é ascender.
Mas como é difícil!

Partindo para novos vôos


Partindo para novos vôos eu sigo em frente e deixo pra trás um monte de gente.
Gente que queria levar comigo, dentro do meu umbigo.
Gente que aprendi a amar, a admirar. Gente que entrou na minha vida de repente e já tem um lugar no meu coração.
Gente, eu tenho uma notícia pra vocês: eu não esqueço vocês não!
Porque eu tenho mesmo esta coisa que não sei é qualidade ou defeito, mas não deixo ninguém sair da minha vida, não tem jeito.
Agora eu só tenho a agradecer por ter conhecido cada um de vocês. Eu só tenho a recordar os momentos vividos.
Todos me ensinaram muito. Palavras, sorrisos, gestos, manias, piadas, olhares, carinhos. Tanto os que eu pude abraçar, quanto os que não consegui, carimbaram individualmente minha alma com aquilo que têm de mais especial. Impossível descrever, mas é sensacional.
Depois de vocês eu jamais serei a mesma, depois de vocês eu sou muito melhor, mais feliz, mais completa. Depois de vocês meu céu tem mais estrelas, meu jardim tem mais flores, meu messenger mais contatos, meu orkut mais amigos, minha agenda mais telefones.
Enquanto eu existir, vocês existirão em mim, impressos no meu dia- a- dia, na distância sempre presente, na saudade...até que eu não agüente.
Queridos personagens reais que atraí sem querer querendo, quanto eu descobri, quanto estou aprendendo, quanto vocês agregam enquanto vou vivendo. E quantos ainda farão parte desta minha calçada da fama particular?
Não sei. Só sei que a energia de cada ser que por um milésimo de segundo figura em minha história, jamais será esquecida, está pra sempre tatuada em minha memória, está pra sempre livre em minha vida.

O oposto do medo

Qual o oposto do medo?
Do Amor é o ódio. Da alegria, a tristeza.
Mas o medo...medo não tem oposto.
A coragem é claro! É claro que não, a coragem é o oposto da covardia.
Assim como a noite é o oposto do dia.
Como o sim é o oposto do não.
O frio é o oposto do quente, e o molhado do seco.
O rígido é o contrário do flácido, bem como o salgado é o contraponto do doce.
Em cima e em baixo. Fundo, raso. Alto, baixo.
Pobre, rico; gordo e magro.
Bonito e feio. Yin e yang.

Tudo têm o seu oposto que é a sua anulação.
Ou seu equilíbrio. O meio termo.
Mas o medo não tem meio, nem mais e nem menos.
Ou é ou não é. Ou tem ou não tem.
Pouco medo até existe, muito medo também.
Mas meio medo??? Ah, isso não tem.

Se não tem oposto como atingir, como anular, como equilibrar, como combater, como solucionar?
Não tem oposto, mas tem antídoto: a FÉ, que dá força pra encarar.
O medo é uma grandeza proporcional à maturidade. Quanto mais maduro, mais intenso torna-se o medo. E por isso mesmo mais profunda deve tornar-se a FÉ.

Não acredite no que vê. Acredite no que é.

Thursday, March 30, 2006

Eis que de repente me percebo Louuuuco novamente

Eis que de repente me percebo louco, louco, louco novamente.
Louco por não ser mais o mesmo e ainda agora não saber quem sou. Louco pois há algo de diferente que vem tomando conta da gente e assim...
tudo mudou.
E mudou de um jeito que eu nem vi, nem percebi. Na hora em que algo pareceu fazer sentido, quase pensei que não fosse comigo.
Porém me vi refletido no espelho, no espelho, no espelho. Aquele mesmo cabelo repartido no meio.
E por mais outro que eu esteja, no fundo um pouco daquele mesmo EU esbraveja, esbraveja.
Alguma coisa de que nem me lembro mais, disparou um certo gatilho (pow, pow, pow)
e toda minha vida saiu do trilho, do trilho (piuí, piuí).
Pensei que não fosse agüentar. Tive desejos de desistir. Mas obrigado a lutar,
fui mecanicamente vivendo sem sorrisos, apenas lágrimas (buá, buá).
E nada fazia sentido, e nada valia nada...
Até que um ruído me despertou: era um som desconhecido - talvez na verdade esquecido – era o som da minha risada, que explodia em hahahahahaha (gargalhada!).
Tive medo de mudar, de não ser mais eu, de não conseguir, de não ser mais o mesmo, de não me reconhecer!
Mas eu RE-conheci muito mais, agora sei do que sou capaz.
A vida muda todo o tempo, tudo muda o tempo todo.
A vida muda todo o tempo, tudo muda o tempo todo.
E no medo da mudança está o medo da morte
E o medo da morte é o medo da vida.
(O medo da morte é o medo da vida).
Mate seus eus errôneos, deixe outros eus nascerem.
E como diz o Gabriel, O Pensador:
“seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”
“seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”
Eis que de repente me percebo louco, louco, louco novamente
E é assim nesta loucura que me sinto cada vez mais GENTE!

Wednesday, March 29, 2006

Eu, o Tempo e o Mundo

Têm horas que a gente se cansa de ouvir. Cansa de falar. Cansa de sentir. Dá vontade de gritar, chorar, bater. Não mais sorrir.
Aí eu não quero mais ser. Quero desaparecer. Que vida para se esconder e toda hora ter que se conter. Que mundo para se habitar e toda hora querer mudar. Que cabeça para pensar se o coração pra atrapalhar. De onde tirar forças quando tudo parece desabar?
E ainda assim ele está a passar. O tempo.
E ainda assim ele está a girar. O mundo.
E ainda assim ela está a angustiar. Eu.
Eu, o tempo e o mundo. Eu que sinto profundo.
O tempo, o mundo e eu. O tempo que não é meu.
O mundo, eu e o tempo. O mundo. O tempo. E eu?
Eu só queria me encontrar e descobrir o meu lugar. Eu só queria ajudar e de algum jeito melhorar. Eu só queria aprender pra realmente merecer a qualidade de ser.
Que certeza pra ter. Na dúvida basta crer.

Eu vim pra confundir

Eu sou mesmo algo de muito estranho. Quando eu amo muito, eu amo tanto que odeio. Eu odeio, eu sinto ódio. Ódio, inveja, raiva, ciúmes, posse, saudade, desejo, necessidade...e isso me irrita.
Como é possível que eu goste com tanta coisa ruim? Também não sei, desconheço esta resposta e também a origem de toda fúria e agressividade que acompanham tão imenso sentimento.
Imenso e intenso em tudo que sou, que fui, que serei. Imensa e intensa em arte, em cor, em cheiro, em dor, em hipocrisia, egoísmo e tudo mais que tudo é.
Amor com dor, tesão com ódio, carinho com raiva, vontade com posse, desejo com amizade, gargalhadas e lágrimas.
Profunda solidão de barulhentos pensamentos que se revezam numa balbúrdia incessante que me alucina a mente e não me aquieta a alma. Puro delírio. Um surto.
A verdadeira delícia tão terrível que dá medo...e pânico do medo...e mais medo e mais pânico...e mais amor com ódio.
Escrevendo vou admitindo essa minha falta de princípios como um ser que jura ter fé sem querer ser fiel.
Não sei se sinto amor real. Nem mesmo confiança total. Duvido até das minhas dúvidas e só no tempo eu acredito, porque ele não deixa margens à duvidas.
Crise existencial sim, e muita. Tudo confuso. E nessa verdadeira transmutação interestelar de idéias e sensações, vou enlouquecendo nas letrinhas e com elas sim eu me deleito!
Nas palavras que vomito eu me derramo intensa, imensa, sem dó, sem pudor, sem piedade, sem verdade...sem nem ao menos querer ser compreendida, mas sim eternizada, adorada, admirada. Na esperança de ser lida.

Eu sou o Tudo e o Nada

Chega de tabus. Há certos momentos em que a caveira de manto negro e foice na mão senta no sofá da nossa sala e nos convida para um chá.
Essa semana a senhora das trevas veio de malas e nécessaire passar um tempo na casa dos meus avós.
Por coincidência ou destino (?), vim também pra cá, em visita ao meu avô adoentado.
Ao me deparar com ela, foram desnecessárias apresentações. Eu sabia quem ela era - e que motivo de sua visita era o mesmo da minha.
A princípio me senti angustiada e desconfortável com aquela presença macabra impondo-se para mim.
Considerei-a prepotente, injusta e arrogante. Mas, desviei minha raiva dela e acabei despejando nas pessoas ao meu redor.
Só que a raiva virou ódio quando eu a vi totalmente à vontade, relaxada na cadeira do meu avô, tomando a água de coco dele, como se a casa fosse sua.
E aí, me subiu uma vontade enorme de matar a morte!
Matar a morte?
Com o absurdo de meus próprios pensamentos, decidi me calar, antes que a insanidade se tornasse pública e a família decidisse me internar com uma camisa de força.
Então fiz o que era aceitável: chorei. De medo, de dor, de desespero. De raiva, de tristeza, de dúvida. Chorei de lágrimas, chorei baixinho, chorei escandalosa, chorei no meu cantinho. Mas era preciso agir, pra isso eu estava ali.
Fui ao hospital, visitar o vovô. A danada veio comigo. Ficou em pé, na entrada, incógnita.
Ao fim da visita, fomos à uma pizzaria distrair-nos um poço. A bruxa veio conosco. Fazia caras e caretas para os nossos papos, achei até que ela ia palpitar. Chegava a ser quase amigável, só faltou comer com a gente.
Eis que um celular tocou. Má notícia: Meu avô teve uma arritmia e foi parar na UTI.
Saímos em disparada para o hospital. No carro, ela sentou-se ao meu lado, no banco de trás. Pela primeira vez eu a encarei. Ela também me encarou com aquela cara de Monalisa moribunda.
Chegando lá, enquanto esperávamos por notícias, ela tornou-se o assunto: Alguém sabe onde ele quer ser enterrado? Com qual terno? Enterra-se de sapato? Ela prestava atenção a todos os detalhes da conversa.
Achei aquilo meio mórbido e só não levantei pra quebrar os dentes daquela horripilante por três motivos: 1º porque não sei se ela os têm, 2º para não transparecer minha condição insana (olha a camisa de força!) e 3º porque morro - ops, não morro nada - tenho muito medo daquela foice.
Foi quando o médico veio nos dar o diagnóstico: “o quadro está estável, ele permanecerá na Unidade de Terapia Intensiva sendo monitorado e blá, blá, blá.”
Encarei a esquelética vuduzenta pela segunda vez. Agora olhei pra ela de cima tirando um sarro imaginário: “há-há-há, ainda não foi desta vez”.
Para minha surpresa ela me devolveu um olhar de compaixão. Desde então não vi mais sua foice.
Fomos para casa. A ordem era descansar e aguardar. Rolei na cama de um lado para o outro, mas o barulho daquela secretária do Zé do Caixão mastigando as batatas Pringles do meu avô - ela deve ter dentes – não me deixava dormir.
Consumida por um impulso avassalador, fui até a sala, arranquei as batatinhas de sua mão e gritei:
- Ei, versão sem photoshop da Mortícia Adams, o que é que você quer?
- Qual seu problema, loirinha? – ela retrucou.
Instantes mais tarde, despertei num susto, com aquela mão ossuda me dando tapinhas no rosto e lancei:
- Era isso! Eu morri de medo. Foi a mim que você veio buscar, não é mesmo?
Ao que ela emendou:
- Mas é claro que não. Deixe de bobagens, sua tola. Você apenas levou um susto e desmaiou. Medrosa.
- Mentira, você é fatal e traiçoeira...para onde é que vai me levar? – perguntei, já com medo da resposta.
- Agora sim podemos travar um diálogo – ela disse, com uma voz doce – Com a diferença de que será, na realidade, um monólogo.
Fiz cara de interrogação.
- Explico – a cara de osso foi dizendo – quem quer entender a vida, tem que se envolver com a morte. Não há como evoluir sem me encarar, sem me desafiar. Não há como seguir em frente com pavor de mim. É impossível transcender nutrindo a errônea idéia de que eu sou a cobradora final. A monstruosa senhora do mal.
“Sim, sou inevitável, mas eu não venho buscar ninguém. Sou parte do processo. A tão famosa e única certeza.
O que você não sabe, menina, é que eu não sou uma assombração gótica e muito menos tenho foice.”
- Realmente – fui eu que disse – não tenho mais visto sua foice.
- Esse foi seu primeiro passo na caminhada pela minha aceitação – agora foi ela que falou – Eu sou uma presença, uma energia. O máximo que você pode é perceber-me intuitivamente, sentir minha vibração.
“O resto é ilusão, fantasia, lenda. Alguém um dia, não entendendo nada, disse que é assim e pronto.
No entanto, vocês, que duvidam de tudo, acreditam nessa balela. Você sabe quem foi que me viu assim?
Não e nem por isso você questiona. Segue crendo numa falsa verdade que foi imposta há séculos atrás. Uma caricatura da morte que alguém fantasiou e todo mundo aceita como fato.”
Nesse ponto eu, que já estava íntima da síndica das trevas, resumo:
- Quer dizer, então, que a morte apareceu para mim para me dizer que não é má, nem aterradora, nem se veste de preto, nem...
- Calma lá – interrompeu-me ela – eu não apareci pra você, não sou um ser, mas sim uma presença, como já disse. E não apareci pra você porque eu vivo em você.
“Assim como em todos os seres viventes neste plano da dualidade. Eu vivo integralmente em suas vidas, já a morte é plena na vida e a vida é plena na morte. Mas é justamente isso que vocês relutam em aceitar.
Opostos, contradições, Yin e Yang. Não haveria equilíbrio ou harmonia se, assim como a vida, a morte não fosse uma presença constante e parte integrante de cada um de vocês.
Porém, o tabu ao meu redor é tão forte que vocês me personificaram. E com que mal gosto, hein?!”
- Mas eu não tenho um diálogo como este com a vida! – repliquei.
- Talvez não como este, mas você conversa com a vida o tempo inteiro e isso lhe é tão comum que você nem nota. E, da mesma forma que conversa com ela, deveria conversar comigo, pois juntas – vida e morte – somos UM consigo.
“Se agora você me vê aqui, é porque inconscientemente, sabe que sou parte de você e encontrou este jeito para me aceitar, para lidar comigo.
Agora que você já sabe que eu não tenho essa aparência, não me enxergará mais assim. Contudo, terá a todo momento, a convicção da minha inseparável companhia.”
Fez-se silêncio. Me perdi em reflexões e pensamentos confusos. Quando me dei conta já não via mais aquela criatura, mas sabia que a morte estava ali, assim como tenho certeza de que a vida está sempre aqui.
De repente tudo fez sentido: a natureza, os ciclos da vida, o tempo, tudo está em tudo... “e tudo acaba onde começou”.
“Morte, morte, morte que talvez, seja o segredo desta vida” (já dizia Raulzito).